Algumas considerações sobre o estupro...

Algumas considerações sobre o estupro...

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Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

Recentemente foi realizada uma pesquisa que deixou boa parte da população brasileira perplexa com seus resultados; numa pesquisa realizada pelo Datafolha, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Público apontou para uma triste constatação: mais de um terço dos brasileiros (33%) creem que a vítima seria considerável responsável por seu próprio estupro. O levantamento mostrou, ainda, que 42% dos homens e 32% das mulheres entrevistadas concordam com a ideia de que a mulher que se dá ao respeito não é estuprada. Vale dizer que 3625 pessoas, a partir de 16 anos, foram entrevistadas em 217 municípios.

Tais números nos mostram o quanto estamos longe da igualdade entre homens e mulheres e do quanto ainda somos retrógrados quando o assunto é igualdade de direitos entre o sexo masculino e feminino. Por mais que se diga o contrário, a pesquisa é clara no quanto se permeia, mesmo que de forma velada, a ideia de que a mulher ainda é vista como um objeto de prazer masculino e de que o homem é o seu dono. E o pior de tudo é que tal conceito é visto por grande parte das mulheres entrevistadas. Os tempos são modernos, mas, ainda se pensa como há décadas, séculos atrás e mulher ainda continua sendo desvalorizada e subjugada!

De onde se tira a ideia de que a conduta ou vestimenta dão a outro alguém o direito de lhe possuir por não estar de acordo com seus parâmetros? Será que tais "pensadores não se dão conta de que estão tirando a culpa e a responsabilidade do estuprador e lhe colocando no patamar de vítima? O que leva alguém tirar a culpa de um criminoso (não vejo palavra diferente a ser usada) para atribuí-la à vitima? Quais foram os parâmetros que levaram os entrevistados a fazer tal julgamento? Será que tais acusadores pensariam de mesma maneira se "a mulher que pediu para ser estuprada e não se deu ao respeito" fosse sua a mãe, filha ou esposa?

Além das questões históricas e de inconsciente coletivo que ainda mantém forte a cultura do machismo, bem como as questões educacionais, culturais e, ainda, uma justiça lenta que acaba por favorecer muitos destes bandidos que continuam desfilando livremente pelas ruas, temos também o egoísmo e egocentrismo humano que corroboram para que tais crueldades continuem acontecendo a cada onze minutos no nosso país. Tendemos a nos tornar juízes e, com isso, julgamos rapidamente, sem, ao menos tentar nos colocar no lugar dos outros. Por muitas vezes só nos compadecemos ou nos tornamos condolentes quando temos alguma experiência, direta ou indiretamente com a situação...

Pois, bem! Que mudemos nossa mentalidade retrógrada, machista, nojenta e cruel, sem termos o desprazer de vivenciar na pele ou com algum ente querido os atos de estupro! Que nos dispamos da capa de juiz e nos coloquemos no lugar de uma mulher, jovem ou criança que tenha vivido o terror da violência sexual! Que tenhamos em mente que, ao justificar qualquer ato do tipo, estamos justificando a todos, sem exceção. Lembram do major da PM que abusou daquela criancinha de dois anos, há semanas atrás? Ele também se julga vítima de uma menina sedutora; não se esqueçam deste detalhe na hora de serem solidários com quaisquer tipos de crápulas estupradores...

Independente de qualquer situação, nenhuma, mas, nenhuma mesmo, nenhuma mulher merece ser estuprada! Abra sua mente e se junte nessa luta!

Jansen Sarmento

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