Freud: algumas considerações sobre a série Original Netflix

Freud: algumas considerações sobre a série Original Netflix


Finalmente terminei de assistir Freud, série original da Netflix, que estreou na semana passada, dia 23/03/2020. 

Foram oito dias seguidos; 1 episódio por dia, sem pressa, com total atenção, despido do olhar pessoal, profissional e da admiração que tenho pelo Freud real, criador da Psicanálise e considerado um dos grandes gênios da humanidade...

Pois bem, foram muitas as emoções e sentimentos ao longo dos oito episódios da série: momentos de raiva, fúria, incredulidade, espanto, entre tantos outros... 

Contudo, um pensamento não me saía da cabeça: não se trata de um programa biográfico, com o compromisso de seriedade e respeito para com a figura de um dos maiores pensadores da humanidade. 

É algo pensado e criado para entreter e ganhar dinheiro... Acho que foi isso que me salvou de não odiar a série e, ao contrário disto, gostar e me divertir com este Freud personagem e a mirabolante história vivida por ele.

Vale dizer que se fosse qualquer outro personagem, muitos que odiaram, teriam afirmado se tratar de um interessante caso de investigação e suspense, mas, como Freud estava ali, houve uma intensa ojeriza de estudiosos e admiradores do grande mestre...

Apesar de fazer parte do grupo que tanto admira e faz uso dos ensinos do Pai da Psicanálise, acredito ter conseguido me desvencilhar do mito histórico e entendê-lo como um personagem principal de uma série comercial, sem compromisso de apresentar na totalidade sua importância e as contribuições que deu ao mundo moderno e contemporâneo.

É bem verdade que neste thriller existe uma viagem que beira o absurdo, misturando diversos elementos que qualquer pessoa de bom senso vai perceber que, Freud jamais viveria ou passaria, mas, ainda assim, todo esse contexto surrealista prende e segura a atenção; é quase impossível não se sentir preso pelo enredo e, seja para criticar ou elogiar, aguardar pelo próximo episódio, curioso do que ainda está por vir.

Muitos acusam a teatralidade da série, mas, vou na contramão destas críticas e, em minha percepção, é nela que se encontra um dos seus grandes trunfos. Tal excesso traz visceralidade e nos permite adentrar com mais facilidade em tudo o que a série nos apresenta. 

A argumentação de que Freud não foi tratado com o devido respeito, nem como médico, mas, também não podemos nos esquecer que trata-se de um profissional pré psicanálise, que assumidamente não era um bom hipnotizador e, que apesar do excesso de desvalorização apontado na série, sem dúvida alguma deve ter passado por muitos momentos de descrédito e saias justas em sua trajetória profissional.

O grande calcanhar de Aquiles de Freud está em sua relação com a cocaína. Ao meu ver foi tratada com descaso e causou a impressão de uma pessoa viciada, que necessitava do uso do entorpecente a todo instante... Faltou informar o contexto da época e o motivo do seu uso, que na época era uma medicação lícita e fabricada por grandes laboratórios.

Para efeito de informação, Freud acreditava que a cocaína fosse fundamental para a cura das doenças da alma, por conta dos seus efeitos estimulantes e sedativos. Vale dizer que o próprio pai da psicanálise fazia uso dela, bebendo a substância diluída na água. Os resultados iniciais foram positivos, contudo, ao perceber que seus pacientes estavam se tornando viciados, abandonou o seu uso e passou a investigar o inconsciente sem nenhum tipo de medicamento.

A hipnose foi hiper valorizada, quase tratada como um poder supremo, onde um grande especialista da técnica consegue manipular e persuadir pessoas a agirem ao seu bel prazer, porém, mesmo este excesso tem a sua finalidade e vai de encontro com o a força do inconsciente na vida do ser humano.

E falando em inconsciente, é nele que reside a maior grandeza da série: mesmo sendo abordado de forma tímida, cada vez que explicações e menções de sua forma mais primitiva são expostas, a série ganha força e, como amante da psicanálise, afirmo que valem por um episódio inteiro!

Fica agora um texto declamado pelo personagem principal, em seus minutos finais, que define a série e os atos de seus personagens, derrubando assim, todo o ocultismo e excesso que julgamos em todos os episódios antecessores:

O poder do inconsciente: o que queremos na parte mais profunda do nosso ser se manifestará, por bem ou por mal, ou vice-versa. O que uma pessoa se tornou era, na realidade, seu mais profundo desejo.

Enfim, em minha concepção, Freud é uma boa série que, além de entregar um bom thriller de investigação e suspense,  prende o seu espectador o seu espectador do início ao fim, apresentando poucas, porém, boas definições de alguns elementos da psicanálise e que merece ser vista, seja para elogiar ou execrar! Imperdível!

Psicólogo Jansen Sarmento
CRP: 05/38624
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